domingo, 18 de março de 2012

Temporal


   A chuva caiu. O céu despencou, desmoronou. O temporal finalmente aconteceu.
Em baixo da água, eu estava completamente molhada. Apenas alguns minutos se passaram desde que a água começou a cair. Eu tinha as roupas coladas no corpo e o cabelo molhado. Estava completamente encharcada.
   O vento batia contra meu corpo, empurrando-o para o lado. Mas meus pés estavam fixos no chão. Eu não me movia. A água batia ferozmente no meu rosto, o vento tentava me mover, meu olhar petrificado ao longe.
   O céu cinza, tomado por nuvens horrorosamente negras. As pessoas passavam por mim como vultos, todas de guarda-chuva que trombavam uns com os outros. Alguns me empurravam, outros passavam longe, mas todos eram vultos que andavam rápido demais para que visse seus rostos. Tentavam fugir da chuva.
As folhas das arvores balançavam como se dançassem. Os pequenos pássaros voavam para longe, tentavam se abrigar da chuva. Todos tentavam. Menos eu. Terra, areia, água, meu pé, era o que tinha dentro do meu sapato.
   A chuva caia em mim, o vento me empurrava pro lado, mas eu não ia. Permanecia parada, embaixo daquele temporal.
   Eu não sentia. Eu não ouvia. Eu não falava. Era como se estivesse isolada do mundo ao meu redor. Como se estivesse dentro de uma bolha que mantinha tudo longe. Quem me dera fosse verdade. Mas não era e a água continuava a bater contra meu corpo.
   Fechei meus olhos.
   A água molhava meus lábios, meus braços, minhas roupas, meu cabelo.
   Abri-os.
   Como se saísse do transe, aos poucos. Deitei a cabeça pra trás. Pude ver então o céu, aos meus olhos estava pior do que parecia. A chuva só aumentava. Só piorava. Só se tornava mais feroz. A neblina se instalou no lugar. Dificultando minha visão, mas do que isso importava?
   Todos fugiam da chuva, como se conseguissem, como se fosse possível. Uns se instalavam em baixo de toldos, alguns dentro de lojas, outros entravam em suas casas, mas a chuva continuava a cair. Sem parar.
   Tal como as pessoas, os carros por aqui passavam. Como vultos. Vultos que espirravam água nas calçadas, causando aquele o constante barulho. Vultos mais rápidos. Mais velozes. Vultos de automóveis. Como se estivessem mortos. Como se fossem fantasmas. Talvez essa fosse eu. A fantasma ali. Talvez fosse eu o vulto.
   Observei atentamente a gota escorregar pela lente do óculos, cair na minha bochecha, correr por minha boca, meu pescoço e se juntar as outras na minha blusa. Varias outras a imitavam a seguir. Voltei meu olhar ao alem. Os vultos, as casas, prédios, arvores, tudo. Eu não via. Meu olhar estava fixo no nada. Tudo o que era real se embaralhava na minha mente, tornando-se apenas uma obra abstrata. Eu não piscava, como em uma singela brincadeira.
   A água continuava a bater contra meu corpo, o vento não desistira de me empurrar para longe dali.  Mas eu não saia do lugar, eu estava parada debaixo do temporal, e era ali que ficaria. 

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